sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Semântica

Entre (linhas) entre palavras



Dar sentido às palavras a partir de sua relação umas com as outras ou do contexto em que se inserem pode trazer surpresas inimagináveis.


Edmilson José de Sá*

Desde os escritos do pai da Linguística, Ferdinand de Saussure, o conceito de significado figura entre os elementos-chave na reflexão linguística. De tão importante, ele ganhou até um ramo próprio para seu estudo. É a Semântica, que se preocupa justamente com os sentidos adquiridos pelas palavras ou lexias ou pelos seus agrupamentos.
A alcunha do termo Semântica foi destinada ao filólogo francês Michel Bréal (1832 - 1915) (saiba mais no box na página XX), que estudava o corpo e a forma das palavras, o que geraria um único termo que ligasse a fonética e a morfologia. Embora não houvesse um termo que denominasse o estudo dos sentidos até então, isso não era impedimento para que estudos anteriores desde a época de Aristóteles. Um dos percussores era o alemão Hermann Paul (1846 - 1921), professor de língua, que realizou uma oposição do abstrato e do concreto, obtendo grande êxito em estudos estilísticos de metáfora, eufemismo, prosopopeia e tantos outros. Além disso, a grande preocupação no âmbito da Gramática Comparativa se estendia para a perspectiva etimológica, que servia para compreender as relações entre a fonética e a morfologia.
Léonce Roudet
Roudet uniu as teorias dos campos associativos aos eixos de significado e significante propostos por Saussure e estabeleceu o sistema de mudança semântica, relacionando sentido e nomes.
O nascimento da Semântica
Mas a linha divisória existente no estudo da linguagem surgiu no século XIX, pois até esse período, os estudos de compreensão linguística só ocorriam sob a égide das distinções vocabulares de maneira dispersa, a partir do processo diacrônico. A grande mudança ocorreu com as ideias dicotômicas de Ferdinand de Saussure (1857 - 1913), linguista suíço, cujas ideias estruturalistas influenciariam para o desenvolvimento da teoria linguística. De início, o linguista trabalhava a filologia e, mais tarde, partiu para a linguística geral. Das anotações de alguns de seus melhores alunos surgiu o Curso de Linguística Geral em 1916, publicado postumamente. Com ele, os estudos diacrônicos deram lugar aos estudos sincrônicos, afetando, além da linguística, as pesquisas de cunho antropológico, histórico e de crítica literária.
A partir daí nunca mais se parou de estudar semântica. Em 1921, o fonólogo francês Léonce Roudet (1861 - 1935) passou a trabalhar com base na linguística psicológica as evoluções semânticas. Gustaf Stern, em 1931, distinguiu as mudanças externas das linguísticas. Jost Trier idealizou a ideia do "Campo Semântico", estabelecendo ligações entre o plano dos conceitos e o da expressão no intuito de facilitar a compreensão entre as relações de significante e significado. Os estudos prosseguem até a fase do Estruturalismo clássico proposto pelo linguista húngaro Stephan Ulmann (1914 - 1976), que distinguia a natureza e a causa semânticas a partir das relações de sentido e os efeitos quanti-qualitativos que ele possuía.
No início dos anos 1950, um linguista e pedagogo americano chamado Noam Chomsky (1928 -) fundou a gramática gerativo-transformacional, um sistema que revolucionou a linguística moderna. Para ele, as pessoas de conhecimentos inconscientes já possuem o seu próprio idioma e, depois disso, o linguista francês Oswald Ducrot (1930 - ) brilhantemente faz os estudiosos considerarem que nenhum sentido se adquire fora do contexto.
Campo Semântico
Campo semântico é toda a área de significação de uma palavra ou de um conjunto de palavras - de modo simples, o conjunto de palavras unidas pelo sentido. Não é possível demonstrar que toda palavra se insira em campos semânticos. A teoria concentra-se em alguns grupos bem definidos, como cores e relações de parentesco.
A semântica do léxico
A semântica lexical é uma das muitas vertentes relativas aos estudos de sentido. Esta teoria, que faz parte da semântica estruturalista, se vale da linguagem e não do mundo real, como preconiza Saussure. Desta feita, as palavras são definidas através da relação que possuem umas com outras, estabelecendo sentido, possibilitando significações. Vale também mencionar as contribuições embrionárias de Frege, que em 1978 trouxe a questão do significado para uma abordagem em interface com a lógica. Frege ligou o significado da sentença às condições de verdade, mas sem deixar de se preocupar com o significado lexical de maneira isolada, ou seja, atribuindo valores do que é pressuposto ou subentendido nas orações a partir das marcas linguísticas existentes na sentença.
O trabalho com a semântica lexical requer o conhecimento de uma nomenclatura particular.
A lexia é uma unidade lexical memorizada, que pode ser simples, como livro, caderno, lápis; composta, como primeiro-ministro, guarda-chuva, mesa-redonda; complexa, como estado de sítio, mortalidade infantil, Cidade Universitária; e textual, como em expressões proverbiais do tipo "quem tudo quer, tudo perde".
Conforme mencionado anteriormente, a lexia se compõe de vocábulos, cuja natureza de elementos que a compõe é chamada de morfema. Esse morfema possui duas caracterizações, um lexema, como unidade constitutiva de significados e um ou mais gramemas, que são os indicadores de função. No caso da lexia cunhado, o lexema é cunhad e o gramema de gênero é o.
Os morfemas lexicais pertencem a um inventário fechado e pouco extenso. Sua significação é, pois, nomeada de semema. Estes, por sua vez, possuem três grupos, os específicos (distinguem o que é mais próximo), os genéricos (indicam a classe gramatical) e os virtuais (existem na consciência do falante).
No campo das relações entre as lexias, o linguista inglês John Lyons (1932 -) propõe o seguinte esquema:
1) Relações semânticas: hierarquia, inclusão, equivalência, oposição.
2) Relações fonéticas e gráficas: homonímia, homofonia, homografia e paronímia.

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